Do modelo panóptico ao sistema sibyl: uma análise da trajetória de shogo makishima em psyco pass
Do modelo panóptico ao sistema sibyl: uma análise da trajetória de
shogo makishima em psyco pass
<adelaide11cat@gmail.com>
Toma-se como ponto de partida o Panóptico, arquitetura descrita no século XVIII por Jeremy
Bentham e destinada a vigilância e produção de indivíduos úteis e dóceis. É símbolo do que Michel
Foucault denomina modelo disciplinar e refinado à Sociedade de Controle em Gilles Deleuze. Nesse
viés, este Trabalho de Conclusão de Curso propõe um diálogo entre textos acadêmicos e a série de
anime de ficção científica Psycho Pass (2012). Entende-se que, mesmo ante criações distantes,
surreais ou distópicas, a narrativa ficcional pode agir como mecanismo de torção da realidade capaz
de forjar possibilidades e de suscitar análises e reflexões relevantes. Em Psycho Pass, o Sistema
Sibyl é uma tecnologia apta a calcular o coeficiente criminal e o nível de estresse dos cidadãos
determinando sanções adequadas aos indivíduos em variados âmbitos da existência, o que remete
ao anseio das sociedades modernas pelo controle das multiplicidades humanas. Problematizou-se,
então, que modos de resistência podem emergir nesse contexto dito coeso e visto com naturalidade
pela maioria dos personagens, exceto Shogo Makishima. Portanto, colocou-se como objetivo geral:
compreender a relação entre a trajetória de Shogo Makishima e as possibilidades de resistência à
organização social presente no anime Psycho Pass. Os objetivos específicos foram: percorrer
relações possíveis entre o modo de vida apresentado pelos cidadãos de Psycho Pass e a
organização de sociedades modernas; contextualizar a obra, levando-se em consideração seu
gênero e meio de representação (anime); compreender como Makishima tensiona a sociedade onde
atua e que possibilidades esse evoca. Quanto à metodologia, trata-se de uma pesquisa de
abordagem qualitativa com procedimentos bibliográficos incluindo revisão da literatura, seleção e
análise de cenas. A amostra para estudo compreende a primeira temporada do anime e os resultados
dispuseram-se em três seções temáticas: a produção de uma marginalidade como ilusão de ótica; o
despertar do “esplendor da alma humana” diante do olho do poder; e a amplificação de tensões ante
as várias faces do Sistema Sibyl. Foi possível constatar, mediante análise, contradições existentes na
aparente perfeição do sistema, o qual instrumentaliza indivíduos para assegurar maior bem-estar
possível, conduz à participação como ilusão de liberdade e captura a delinquência como elemento
central à manutenção de dispositivos de segurança. A partir de Makishima, percebe-se uma estrutura
que gradualmente assume complexidade hábil ao monitoramento de fluxos, verificou-se uma sujeição
a nível do desejo, da vontade dos indivíduos, mas também nesse aspecto um potencial de fuga. A
resistência surge, portanto, emaranhada às sutis relações de poder, como práticas de recusa
amparadas em um exercício de questionamento e em atos, ainda que efêmeros e locais, de
contraconduta. Destaca-se a potência do contato com o tensionamento provocado por Makishima a
outros personagens, possibilitando pensar uma arte de outras formas de existir. De modo amplo, a
contenção constante das tentativas de fuga, no anime, suscita discussões quanto às possibilidades
de comunicação da obra com a realidade presente, seja pelo compartilhamento de uma ânsia por
segurança e normalidade ou pela esperança depositada em tecnologias como portadoras de um
futuro necessariamente livre de sujeições.
As a starting point, one considers the Panopticon, an architectural project described by Jeremy
Bentham in eighteenth century to monitor and product useful and docile individuals. It is the symbol of
Michel Foucault’s model of the disciplinary mechanism, which is later refined to Gilles Deleuze’s
Society of Control. In these ways, this Term Paper seeks to propose a dialogue between academic
texts and the science fiction anime series Psycho Pass (2012). It is understood that, even in face of
surreal or dystopian creations, the fictional narrative can be a twist mechanism of the reality capable of
forging possibilities and rise analysis with relevant considerations. In Psycho Pass, the Sibyl System is
a technology abled to measure the crime coefficient and the citizens state of mind, which allows the
determination of appropriate sanctions to individuals in many areas of existence. That bring us to the
modern societies urge of controlling the human multiplicities and raised questions about which forms
of resistance may emerge at this apparently cohesive context regarded natural, except for Shogo
Makishima. Therefore, the main goal of this study was understanding the relation between Shogo
Makisima’s trajectory and the possibilities of resistance to the social organization found in Psycho
Pass. The specific objectives were: covering the possible relations between the way of life found in
Psycho Pass and the organization of modern societies; put the anime into a context, considering the
gender and its production; understanding how Makishima disrupts the society where he acts and what
kind of possibilities he evokes. Regarding the methodology, it is a qualitative approach study taking
bibliographical procedures including a literature review, selection and analysis of scenes. The sample
corresponds to the first season of the anime and the results are presented in three thematic sections:
the production of a marginality as an optical illusion; the awakening of the “splendor of people’s souls”
before the eye of power; and the growth of disruption against the many faces of Sibyl System. The
analyses revealed the contradictions in the apparent perfection of Sibyl which uses individuals to
assure the highest well-being, leads to participation as an illusion of freedom and captures the
delinquency as the key element to maintenance of security devices. Makishima uncovers a structure
that gradually assumes a complexity able to control the free-floating, in which it is shown the
subjection of the desire, but also a fighting potential in it. Therefore, the resistance arises through an
interweaving of subtle power relations, as refusals sustained by an exercise of questioning and
against-conduct acts, even ephemerals and locals. It was highlighted the consequences on other
characters after the contact with Makishima’s disruptive actions, enabling an art of another ways of
living. Talking broadly, in Psycho Pass, the combating of fight attempts raises discussions on the
possible dialogues of the anime with the present reality, either by the longing for security and normalcy
shared or the hope placed in promising technology for a great future free from subjection.
Ma. Barbosa, Lidiane dos Santos.
Análise do discurso literário.