Influência de variáveis ambientais sobre a produção pesqueira do estuário e foz do Rio São Francisco
Influência de variáveis ambientais sobre a produção pesqueira do estuário e foz do Rio São Francisco
<jhennysilva70@gmail.com>
Estuários são considerados um dos mais importantes ambientes aquáticos para a vida animal
costeira, que depende destes habitats e seus processos. No entanto, uma série de ações
antrópicas podem alterar o aporte fluvial de água e matéria, como também, o aporte de material
biogênico à zona costeira, afetando a produtividade, a rede trófica e a exportação de materiais
aos oceanos com efeitos sobre a tradicional atividade pesqueira. O rio São Francisco, um dos
maiores da América do Sul, possui um sistema de barragens em cascata ao longo de seu curso,
instaladas especialmente para fins de geração de energia elétrica. Essas usinas, no entanto,
apresentam impactos que são comuns ao processo de barramento, sendo mais notáveis no Baixo
São Francisco, devido ao efeito cumulativo das ações a montante. Diante disso, o objetivo do
presente trabalho foi avaliar como variações ambientais afetam a produção pesqueira no
estuário do rio São Francisco. Os dados de desembarque pesqueiro foram coletados por
iniciativa da colônia Z-19 com apoio e parceria do Laboratório de Investigação e Manejo da
Pesca (IMAP), da UFAL Penedo. Os dados de pluviosidade foram cedidos pela CODEVASF
(1994 a 2017), os quais foram submetidos a análise por trimestre, por meio do teste de Kruskal
Wallis. Os dados de vazão foram obtidos pelo portal HIDROWEB da Agência Nacional das
Águas (ANA). Para se avaliar alguma variação significativa nos dados de vazão do Baixo São
Francisco por período, foi aplicado o teste t de Student. Os dados de salinidade foram cedidos
pela Divisão de Meio Ambiente da CHESF. A influência da vazão sobre a intrusão salina e
sobre a produção pesqueira foi analisada através de análises correlação (Pearson). A
precipitação média anual observada para o período foi de 1.215 mm. 1º e 4° trimestres do ano
foram classificados como período de menor pluviosidade da região, sendo classificado como
período seco. Nesse período, são observadas maiores capturas de camarão sete barbas
(Xiphopenaus kroieri) e elasmobrânquios na foz do rio São Francisco. Já o período chuvoso
correspondeu aos 2° e 3° trimestres do ano, apresentando maiores desembarques de camarão
branco (Litopenaus schmitti) e de peixes estuarinos. Inicialmente a vazão média do rio São
Francisco era de 3.533 m³/s. Contudo, com a construção da UHE Xingó, a descarga fluvial para
o Baixo São Francisco passou a ser regulada, e a vazão foi significativamente menor entre os
períodos anterior e posterior à operação da mesma. Nos últimos anos, devido às secas, a vazão
foi reduzida diversas vezes, chegando a apenas 500 m³/s em 2017. Esse evento coincidiu com
uma maior salinidade no estuário nos meses de menor descarga fluvial, com a cunha salina
chegando a 14 km a montante da desembocadura, atingindo uma importante estação de
abastecimento de água para consumo humano, promovendo salinização da água consumida no
município de Piaçabuçu. Dessa forma, foi observado que a vazão é o principal fator que controla
a extensão da cunha salina no estuário (R
2 = 0,83). Quando avaliada a influência da vazão sobre
a produção pesqueira no estuário, pôde-se observar uma correlação positiva entre os níveis de
descarga fluvial e a produção de pilombetas (Engraulidae, R2 = 0,77), curimatã (Prochilodus
sp., R
2 = 0,52) e piaus (Leporinus spp., R
2 = 0,58). Por outro lado, foi observada uma forte
correlação negativa entre a vazão e a produção das tainhas (Mugil spp., R
2 = 0,75), ou seja,
maior produção em períodos de menor vazão. O rio São Francisco vem sofrendo diversos
impactos decorrentes da redução da descarga fluvial, com reflexos na salinização da água, em
consequência da maior penetração da cunha salina e sobretudo alterando o ambiente e causando
impacto sobre a produção pesqueira local, em especial de espécies endêmicas com hábito
migratório.
Palavras Chave: Pesca – Vazão – Pluviosidade – Salinidade
Estuaries are considered one of the most important aquatic environments for animal coastal life,
which depends on these habitats and their processes. However, a series of anthropic actions can
change the inputs of water and matter of biogenic material to the fluvial and coastal zone,
affecting productivity, trophic web and the export of materials to the oceans, with effects on the
traditional fishing activity. The São Francisco river, one of the largest in South America, is
dammed along its course, installed especially for electric generation purposes. These plants,
however, have common impacts, most notable in lower São Francisco, especially in the estuary
and river mouth, due to the cumulative effects upstream. The aim of the work was to evaluate
how environmental variations affect fishery production in the estuary of the São Francisco
River. Landing data were collected by the Fishermen Association Z-19 with support and
partnership from the Fisheries Research and Management Lab (IMAP), from UFAL Penedo.
The rainfall data was provided by CODEVASF (1994 to 2017), which were submitted to
analysis by quarter, using the Kruskal Wallis test. The water flow data were obtained by
HIDROWEB site of the Agência Nacional das Águas (ANA). To evaluate any significant
variation in the water flow, the Student t test was applied. Salinity data were provided by the
CHESF Environmental Division. The influence of the water flow on the saline wedge and
fishery production was analyzed using correlation analysis (Pearson). The average annual
precipitation observed for the period was 1215 mm. 1st and 4th quarters of the year were
classified as dry period, in which occurs high catches of Atlantic seabob shrimp (Xiphopenaeus
kroieri) and elasmobranchs, at the mouth of the São Francisco River. The rainy season
corresponded to 2nd and 3rd quarters of the year, presenting larger landings of southern white
shrimp (Litopenaeus schmitti) and estuarine fishes. Initially, the average flow of the São
Francisco River was 3533 m³ x s
-1
. However, with the instalation of the Xingó HPP, the river
discharge to the lower São Francisco started to be regulated, and the water flow was
significantly lower between the periods before and after its operation. In recent years, due to
droughts, the water flow has been reduced several times, reaching just 500 m³ x s
-1
in 2017.
This event coincided with a higher salinity in the estuary in the months of lower river discharge,
with the saline intrusion reaching 14 km upstream of the mouth, reaching an important water
supply station for human consumption, causing salinization of the water consumed in the
Piaçabuçu city. Thus, it was observed that the water flow is the main factor that controls the
extension of the saline intrusion in the estuary (R2 = 0,83). A positive correlation could be
observed between the levels of fluvial discharge and the production of anchovies (Engraulidae,
R
2 = 0,77), flannel-mouth characiforme (Prochilodus sp., R2 = 0,52) and head standers
(Leporinus sp., R2 = 0,58). On the other hand, a strong negative correlation was observed
between water flow and mullets production (Mugil spp., R2 = 0,75), that is, greater production
in periods of lower water flow. The Lower São Francisco River has been suffering several
impacts resulting from the reduction of fluvial discharge, causing salinization of the water,
changing the environment and impacting local fisheries production, especially of endemic
species with migratory habit.
Dr. Guimarães, Irű Menezes.
Salinidade.
Pesca.
Vazão .
Pluviosidade .