Comparação da atividade inflamatória sistêmica de indígenas brasileiros obesos expostos a diferentes contextos de urbanização

Introdução: As transformações sociodemográficas nas populações indígenas do Brasil, sobretudo em razão do processo de urbanização, têm impactado na magnitude das doenças crônicas, dentre as quais destaca-se a obesidade. Objetivo: O presente estudo tem como objetivo comparar a dinâmica inflamatória em índios obesos de duas etnias indígenas do Vale do São Francisco, Truká e Fulni-ô, que estão sob diferentes contextos de urbanização. Métodos: Trata-se de um estudo observacional transversal envolvendo indígenas obesos (IMC ≥ 30 kg/m2) das etnias Truká (Alto grau de exposição à urbanização) e Fulni-ô (Baixo grau de exposição à urbanização). Foram analisadas variáveis sociodemográficas (sexo e idade), variáveis antropométricas (peso, altura, IMC e tipo de obesidade – grau I, II e III) e marcadores inflamatórios (FGF-2, IL-6, IL-8, LOX-1, MPO, PAI-1, TN-C e TRAIL), sendo todos esses dados estatisticamente comparados entre os dois grupos. Para a análise multivariada em rede foi utilizado o método Extended Bayesian Information Criterion Graphical Least Absolute Shrinkage and Selection Operator (EBICglasso). Adicionalmente, foram calculadas as medidas de centralidade e testes de estabilidade e acurácia em redes por meio de técnicas de reamostragem (bootstrap). Significância de 5% e intervalo de confiança de 95%. Resultados: O sexo feminino predominou nas duas etnias (72,13% nos Fulniô e 70,27% nos Truká). A idade foi semelhante nos dois grupos (p = 0,545), assim como o IMC (p = 0,225). Os indígenas Truká apresentaram maiores dosagens de marcadores inflamatórios que os Fulniô. Destaca-se a IL-8, com mediana nos Fulni-ô = 13,12 pg/ml (IQR 4,9 a 37,7) e de 335,99 pg/ml (IQR 166,6 a 678,2) nos indígenas Truká. Adicionalmente, no grupo Fulni-ô há expressivo número de conexões para IL-8, MPO, e Tenascin- C2 e a análise de centralidade indica papel importante dos marcadores IL-8 e MPO. Na rede multivariada dos indígenas Truká, há um menor número de interconexões entre os marcadores e o gráfico de centralidade mostrou papel importante dos marcadores TRAIL e FGF-2. Conclusões: Conclui-se pela existência de diferentes dinâmicas inflamatórias em indígenas obesos expostos a diferentes graus de urbanização. Indígenas obesos da Etnia Truká - com alto grau de exposição à urbanização - apresentaram maior concentração de marcadores inflamatórios.

Background: The socio-demographic transformations in the indigenous populations of Brazil, especially due to the urbanization process, have impacted the magnitude of chronic diseases, among which obesity stands out. Aim: The present study aims to compare the inflammatory dynamics in obese indigenous people from two ethnic groups in the São Francisco Valley (Truká and Fulni-ô), who are under different contexts of urbanization. Methods: This is a cross-sectional observational study involving obese indigenous people (BMI ≥ 30 kg/m2) of the Truká (high degree of exposure to urbanization) and Fulni-ô (low degree of exposure to urbanization) ethnicities. Sociodemographic variables (sex and age), anthropometric variables (weight, height, BMI and type of obesity - grade I, II and III) and inflammatory markers (FGF-2, IL-6, IL-8, LOX-1, MPO, PAI-1, TN-C and TRAIL) were analyzed. For multivariate network analysis, the Extended Bayesian Information Criterion Graphical Least Absolute Shrinkage and Selection Operator (EBICglasso) method was used. Additionally, centrality measures and tests for network stability and accuracy were calculated using bootstrap resampling techniques. Values of p<0.05 were considered significant. Results: A female predominance was observed (72.13% in the Fulniô and 70.27% in the Truká), with no difference in age (p = 0.545) and BMI (p = 0.225) between the groups. Higher concentrations of inflammatory markers were observed in the Truká. The median IL-8 in the Truká indigenous people was 25 times higher than that observed in the Fulni-ô (Fulni-ô = 13.12 pg/ml; IQR 4.9 to 37.7; Truká = 335.99pg/ml; IQR 166.6 to 678.2). In the Fulni-ô group, the markers IL-8, MPO, and Tenascin- C2 showed the highest number of connections (five each). The centrality plot showed an important role of the markers IL-8 and MPO in the model. In the multivariate network of the Truká indigenous people, it was observed that the interconnections between the markers were generally weaker. In this group, the centrality plot showed an important role for the markers TRAIL and FGF-2. Conclusion: We observed different inflammatory dynamics in obese indigenous people exposed to different degrees of urbanization. Obese indigenous Truká people with a high degree of exposure to urbanization had higher levels of inflammatory markers.

Acesso restrito solicitado pelos autores. Provável liberação em 14 jun. 2024.