Sob o sol e entre engrenagens: a realidade do mercado de trabalho das mulheres nos canaviais brasileiros mecanizados

As mulheres persistem na ocupação de espaços no setor canavieiro, mesmo este sendo um ambiente historicamente dominado por homens, no qual enfrentam persistentes desigualdades de gênero devido à estrutura patriarcal intrínseca ao sistema capitalista. Muitas delas ocupam posições precárias, invisibilizadas, com salários reduzidos, enquanto enfrentam a difícil tarefa de conciliar o trabalho remunerado com as responsabilidades do trabalho reprodutivo. Com as transformações tecnológicas reconfigurando o cenário dos canaviais, surge a necessidade de compreender a evolução do perfil das mulheres que atuam nesse setor. Este estudo busca responder à pergunta central: como se configura o perfil das trabalhadoras envolvidas nos processos de trabalho, tanto manuais quanto mecanizados, nos canaviais brasileiros após a mecanização? A pesquisa utiliza dados secundários da RAIS, adotando predominantemente uma abordagem quantitativa. Os resultados revelam uma significativa diminuição da força de trabalho nas atividades manuais com a adoção da mecanização, destacando-se na região CentroSul. Contudo, a falta de renovação na força de trabalho contribui para o envelhecimento do setor, enquanto a exigência de maior escolaridade coexiste com uma redução na renda. As desigualdades estruturais também geram disparidades regionais, sendo mais evidentes na região Norte-Nordeste. Ao comparar o perfil de trabalho das mulheres canavieiras com o setor como um todo, observa-se que suas contribuições são menos valorizadas, refletindo-se em salários mais baixos, mesmo quando mais qualificadas. Em última análise, este texto busca promover a visibilidade das mulheres no setor agrícola e compreender as características predominantes após a modernização agrícola. 

Women persist in occupying spaces in the sugarcane sector, even though it has historically been dominated by men, where they face persistent gender inequalities due to the patriarchal structure intrinsic to the capitalist system. Many of them hold precarious, invisible positions with reduced salaries while grappling with the challenging task of balancing paid work with the responsibilities of reproductive labor. With technological transformations reshaping the landscape of sugarcane fields, there is a need to understand the evolution of the profile of women working in this sector. This study seeks to answer the central question: what is the profile of female workers involved in manual and mechanized work processes in Brazilian sugarcane fields after mechanization? The research uses secondary data from RAIS, predominantly adopting a quantitative approach. The results reveal a significant decrease in manual labor with the adoption of mechanization, particularly prominent in the Centro-Sul region. However, the lack of workforce renewal contributes to the aging of the sector, while the requirement for higher education coexists with a reduction in income. Structural inequalities also generate regional disparities, more pronounced in the Norte-Nordeste region. When comparing the work profile of female sugarcane workers with the sector as a whole, it is observed that their contributions are less valued, resulting in lower salaries, even when more qualified. Ultimately, this text aims to promote the visibility of women in the agricultural sector and understand the predominant characteristics after agricultural modernization.