Epidemiologia das intoxicações exógenas por agrotóxicos e seus efeitos na saúde dos agricultores do estado de Alagoas
Epidemiologia das intoxicações exógenas por agrotóxicos e seus efeitos na saúde dos agricultores do estado de Alagoas
<debora.oliveira1@arapiraca.ufal.br>
A intoxicação exógena resulta da exposição a agentes químicos, como os agrotóxicos, que se destacam pelos graves impactos que causam à saúde. Neste contexto, o Brasil é um dos maiores consumidores desses produtos, e seu uso intenso e indiscriminado em lavouras e plantações de grandes propriedades e da agricultura familiar, contribuem para um aumento expressivo de casos de intoxicações. Contudo, estudos que abordam essas informações no Brasil são limitados, especialmente no que diz respeito à realidade do Nordeste do país. Diante desta realidade, o presente trabalho teve como objetivo descrever o perfil epidemiológico das intoxicações por agrotóxicos de uso agrícola no estado de Alagoas, no período de 2013 a 2022, e analisar os impactos dessas intoxicações na saúde dos agricultores. Para isso, foi realizado um estudo epidemiológico, descritivo e retrospectivo, por meio da coleta de dados secundários provenientes de dois bancos de dados: o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e a Vigilância em Saúde das Populações Expostas a Agrotóxicos (VSPEA). As notificações de intoxicações tiveram foco nas seguintes variáveis: número total de casos; faixa etária; sexo; local de exposição; tipo de exposição; circunstância e a evolução dos casos. Além disso, os impactos dos agrotóxicos na saúde dos indivíduos expostos foram investigados através de um levantamento bibliográfico abrangente em bases de dados acadêmicas. Os dados foram organizados em planilhas eletrônicas no Microsoft Excel (versão 2019) e, posteriormente, apresentados por meio de gráficos e tabela. Foram registradas 1.511 notificações de intoxicações exógenas por agrotóxicos. Destes, predominou o sexo masculino, com faixa etária entre 20 e 29 anos. O local de maior exposição foi o residencial (780 casos), seguido do ambiente de trabalho (492 casos) e do ambiente externo (44 casos); as exposições mais prevalentes foram as agudas únicas (606 casos), seguidas das agudas repetidas (76 casos) e crônicas (9 casos); a circunstância das exposições foram por tentativa de suicídio (453 casos) e acidental (386 casos). A evolução prevalente foi de cura sem sequelas (721 casos). Quanto aos impactos decorrentes da exposição aos agrotóxicos, foram diagnosticados sintomas leves (tontura, dor de cabeça e irritações cutâneas) e complicações mais graves (câncer, Doença de Parkinson, depressão, alterações hormonais, reprodutivas com malformações fetais). A exposição repetida ou prolongada aos agrotóxicos contribui para o aumento do número de intoxicação, gerando impactos significativos na saúde dos trabalhadores rurais. As falhas ocorridas no preenchimento das fichas de atendimento médico, geram subnotificações e impedem o conhecimento real da situação de saúde dos trabalhadores atendidos e notificados. A partir destas constatações, sugere-se a implantação de políticas públicas que possam garantir a segurança e o bem-estar dos trabalhadores rurais, bem como, medidas preventivas e educacionais para a prática agrícola, gerando menos impacto na saúde dos trabalhadores.
Exogenous intoxication results from exposure to chemical agents, such as pesticides, which are known for their serious impacts on health. In this context, Brazil is one of the most consumers of these products, and their intense and indiscriminate use in crops and plantations on large properties and family farming contributes to a significant increase in cases of intoxication. However, studies that address this information in Brazil are limited, especially with regard to the reality of the Northeast of the country. Given this reality, this study aimed to describe the epidemiological profile of intoxication by pesticides for agricultural use in the state of Alagoas, from 2013 to 2022, and to analyze the impacts of these on the health of farmers. In this way, an epidemiological, descriptive, and retrospective study was carried out by collecting secondary data from two databases: the Notifiable Diseases Information System (SINAN) and the Health Surveillance of Populations Exposed to Pesticides (VSPEA). The intoxication reports focused on the following variables: total number of cases; age group; sex; location of exposure; type of exposure; circumstances, and the evolution of cases. In addition, the impacts of pesticides on the health of exposed individuals were investigated through a comprehensive bibliographic survey in academic databases. The data were organized in spreadsheets in Microsoft Excel (version 2019) and subsequently presented through graphs and tables. A total of 1.511 reports of exogenous pesticide intoxication were recorded. Of these, predominated males, with an age range between 20 and 29 years. The location of greatest exposure was the residential area (780 cases), followed by the workplace (492 cases) and the external environment (44 cases); the most prevalent exposures were single acute exposures (606 cases), followed by repeated acute exposures (76 cases) and chronic exposures (9 cases); the circumstances of the exposures were attempted suicide (453 cases) and accidental exposures (386 cases). The prevalent evolution was recovery without sequelae (721 cases). Regarding the impacts resulting from exposure to pesticides, mild symptoms (dizziness, headache and skin irritations) and more serious complications (cancer, Parkinson's disease, depression, hormonal changes, reproductive disorders with fetal malformations) were diagnosed. Repeated or prolonged exposure to pesticides contributes to the increase in the number of poisonings, generating significant impacts on the health of rural workers. Errors in filling out medical care forms generate underreporting and prevent real knowledge of the health situation of the workers treated and notified. Based on these findings, we suggest the implementation of public policies that can guarantee the safety and well-being of rural workers, as well as preventive and educational measures for agricultural practices, generating less impact on the health of workers.
Dr.ª Bezerra, Maria Lusia de Morais Belo.
Saúde coletiva.
Produtos químicos - Agricultura.
Defensivos agrícolas.